sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Manchas

Erguer-me do cansaço passado.
Respirar o ar solitário da manha.
Poder ouvir o cantar dos pássaros.
Pensar no que haverá de bom amanha.

Esquecer que um dia existiu amor,
Esquecer a dor, o calor.
Pensar que o céu ressuscitou agora.
Só esquecer a noite – fixar-me n’aurora.

Minha alma limpar,
Meu coração emudecer.
Esquecer que um dia, ao orvalhar
Ao deixar-me fez-me tremer.

Céu, sua infinita lembrança.
Noite, onde seu coração pulsava
E gritando em minha alma lança
Nódoas que na memória são asas.

E agora escrevo tais versos,
Sujando com meu batom seu espelho.
Minha poesia pobre: sentimentos secretos,
Seu adeus podre e meu batom vermelho.

Quando chegar terá que limpar cada rastro meu
O batom, o suor, o cheiro em roupas suas,
As cinzas dos incensos,
As garrafas de vinho que bebeu,
Enquanto tentarei esquecer, bebendo pelas ruas.

Mas em sua memória esta a nódoa sanguinária
Palavras marcadas, difíceis de apagar.
Os beijos quentes numa noite solitária
Sepultados no adeus do orvalhar.

2 comentários: