sábado, 12 de maio de 2007

Cordel















Dê-me de tua sombra uma faísca,
Um lapso em teu passado.
Mistures esta dor em saliva, lasciva
Morta que eu me estendo ao lado
Deste teor de odor ao qual me sujo.
Venero o cheiro, neste néctar me aprofundo.
Acorrento-me a esperança de teu zelo.
E pelo o que mais prezo e desespero eu juro!
Proclamo à vista de meus demônios,
Ergo o orgulho, mas abaixo a cabeça aos anjos,
Que dentre meu canto, teu nome, permanece puro,
Mas mantêm sobre ti os olhos jônicos,
De carretéis e curvas que ti seguem.
Que meu jeito de sorrir é em preto e branco,
Já que meu choro só os espíritos percebem.
Assim, corda que sustenta meu fio pálido de vida
E pende o corpo a deitar ao chão,
Conta minha sina no barbante de cordel
Que a ti minha luz não passou em vão...
Apaga-se
Que meu jeito de sorrir é não sorrir ao léu.
E se me despeço...

terça-feira, 1 de maio de 2007

Anjos


Foi a primeira coisa que nós vimos, descendo do céu estrelas cadentes durante o dia.

Anjos
Os anjos estão caindo, meu amor, estão perdendo altura, suas asas tornam-se granito aos poucos, nós não vemos saída, sua luzes cintilantes estão nos cegando, seus gritos de dor estão rasgando nossos ouvidos.
Querido, chovem asas de borboletas sobre nós.
Em algum momento eles ouviram o chamado, nós corremos para as catedrais e para os castelos: “Vamos nos abrigar do vento e da tempestade, os anjos estão caindo sobre nós”.

A queda
Estamos correndo em círculos, estamos perdendo a guerra, eles caem sobre nós, seus corpos nos pulverizam, e na agonia de planar por mais alguns estantes o balançar de suas assas levantam os furacões da terra.
Vamos nos arrastar como vermes ao horizonte, nos manteremos cegos, surdos, como também nossos gritos rugem em uníssono. Temos medo, o pavor congela nosso rosto, esta frio no paraíso desumano das criaturas de sonhos, esta quente como no inferno, adrenalina, esta nevando cinzas... Abrace-me, estou com medo.
Caindo...

Inferno
Vamos nos esconder no inferno, vamos nos trancar da luz resplandecente que desce sobre nós lá fora. Vamos nos enforcar com lágrimas, jogamos fora o cálice da esperança, não há mais vinho, não há mais pão, vamos nos sufocar, vamos pendurar a corda.
“Desça pela escada de mármore, desça criança, my moonchild, de me a mão, segure pelos corredores, guie-se pelo odor dos jasmins, desça”.
Nós não precisamos entender, o grito de dor dos anjos...Seus corpos lá fora estão sangrando, nós estamos morrendo em desalento, nossas mentes estão sangrando.

A Mansão
Qual jardim nos pertence? Qual crime estamos cometendo? Qual castigo é meu castigo?
Pelo portão, vamos correr, atravessar entre as árvores, pelo caminho de pedras, até a porta da mansão. Bater na porta de cedro, depois de passar a fonte. Corra eles estão caindo. Truculentos e pesados corpos sobre nós, morrendo embaixo dos anjos, esmagados.
Sua perna esta quebrada, segure minha mão, não vou deixar você aqui para morrer. Agüente mais um pouco... Sim! Minha cabeça esta sangrando, mas não há tempo agora, só mais alguns passos, até já vejo a fonte, só mais alguns passos. Por favor não pare, não solte minha mão, só mais alguns passos.


Relatório (Parte 1)
(Barulho de máquina de escrever).Nunca foi documentada uma guerra onde tivéssemos tanta certeza de ter perdido-a antes mesmo de ter começado, quem nos mata, pobres anjos para quem rezamos, não tem escolha à não ser cair sobre nós, destruir nossos lares, nossas famílias, nossas flores. Eu prefiro não correr, prefiro meu último gole de cafeína e minha velha máquina de escrever (não temos mais energia ha algum tempo desde que eles chegaram).
Como nunca fiz nada em favor da humanidade e ontem eu jurei para alguém que eu poderia ser diferente, esta é minha contribuição.
Não posso dizer em que parte do mundo isto começou, aparentemente a energia que eles emitem causam alguma espécie de “pani” nos nossos aparelhos elétricos e interferências em linhas telefônicas, ondas de rádio e aparelhos de televisão, ou seja, primeiramente a região afetada fica incomunicável com o mundo. Quando chegam um pouco mais próximo é sua luz cintilante (e bastante fosforesceste)que nos ameaça e queima nossos olhos. Aqueles que se encontravam ao ar livre admirando o espetáculo daquelas estrelas à luz do dia foram os primeiros a sofrerem os efeitos dessa luz, obviamente os próximos tentaram tampar os olhos e cobri-los de alguma forma, foi em vão, um a um ficaram cegos, houve aqueles infelizes que, assim como eu, tiveram só uma parte da visão danificada podendo ver, apesar de tudo, com clareza o que se segui...

O Forte.
Talvez agente sobreviva, respirando fundo, aqui dentro estamos seguros, eles não são tão grandes para destruir esta construção...Talvez sejam...Mas eu confio, eu acredito que nós vamos escapar vivos, sei que esta doendo, a gente tem perdido cada vez mais sangue, posso sentir, as ataduras vão funcionar, só não podemos desmaiar.Ficaremos pelo menos com nossa voz e nossos ouvidos, vamos poupa-los.
Isto é um Forte, sobreviveu a tanta coisa, séculos e séculos esta construção esteve de pé, protegeu reinados, crenças, povos inteiros puderam contar sua história.
Acredito que depois de tudo, outros também terão sobrevivido, acredite em mim (silêncio).Você ainda esta sangrando muito?(silêncio) Você esta me ouvindo?(silêncio) Você pode falar?(silêncio) Será que sou eu que não ouço mais? (silêncio) Você esta aí?(silêncio) Esta me ouvindo?...(silêncio).


Cadavérico
Já que me levaram a visão e os ouvidos, poderiam ter me levado também o olfato. Eu sei quanto o horror esta próximo pelo cheiro que vem dele...Sangue, fumaça, óleo e gasolina dos carros, adivinhe quem vai provocar um incêndio? Alguns corpos começam a feder. No começo tentei me guiar pelo olfato apenas e fugir, mas tudo parece em vão, este ar cadavérico vem de todas as direções, inclusive do alto e de baixo, até mesmo tive a impressão de estar pisando em algumas pessoas, se estivessem mortos não faria muito diferença, se estivessem vivos se moveriam, mas e se só tivessem forças para gritar, eu andaria sobre eles aumentando sua dor e não os ouviria, nada de ossos quebrados, nada de pedidos de ajuda, nada.
Até o momento meu corpo não sofreu nenhum arranhão mais não tenho condições de direcionamento para fugir...Imagino que há muitos que ainda tenham uma parte da visão ou ouçam um pouco e estejam tentando fugir.Que ironia anjos.Tudo esta cadavérico... Principalmente meu peito, meu coração e o cheiro desse momento infinito que parece atravessar e devorar séculos em alguns segundos.

Relatório (parte2)
Curiosamente o corpo dos anjos parece ter ficado sensível a nossa atmosfera, ou poluição, seus corpos grandes (cada anjo tem cerca de 70 a 90 metros) parecem que definham mais rápido, sua decomposição é mais rápida, aumentado o odor de putrefação no ambiente.
Se alguém for ler esse relato talvez entenda porque a pressão exercida coma queda dos anjos é tão terrível. A abertura de suas asas podem chegar a 170 metros de comprimento. Quando destroem prédios, florestas, ou quebras de grandes rochedos nas praias não parecem nada divinos.
(o restante ainda será postado)