quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Existir em 12


Existe o tempo e sua medição precisa das horas e minutos, e existe o tempo preciso que fala por si mesmo e que só respeita sua vontade fazendo minutos em horas e horas em segundos.
Existe o vento que assobia melodias doces e amistosas, como também tempestades que nos devoram em sua sinfonia titânica, e o sol tênue ou feroz que nos deixa a seu bel prazer.
Existem os amores que nos deixam ao léu e os que nos aquecem no colo de um porto seguro para qualquer maré. E sempre existem as amizades.
Existe a falta, o desapego, o desassossego, a paixão, a vertigem, as ilusões. As utopias, as políticas, as demandas e quem comande. Existe a força, a ira, a revolta e – ainda bem que existem – as revoluções.
Existem os fazedores, as teorias, os teoremas, os paradigmas, as verdades absolutas e há quem não acredite e quem prefira não acreditar.
Existe um ser que não se encontra quando pensa, apenas quando sente e quando se entrega por completo ao que faz, e há quem se perca ao se entregar.
Existe o mar, a necessidade de navegar e há o saber navegar. E existe o oceano.
Existe o escuro da noite, o escuro do sono acolhedor e do pesadelo que quebra estruturas. O escuro da magia, do desconhecido, do irreconhecível, da cegueira e depressão.
Mas tudo existe no tempo, o tempo que pertence ao relógio, e nossa vida que pertence e existe no tempo. Tempo que não finda, mas se acaba, porém se renova e nos retorna como os ponteiros na dança cíclica de doze em doze.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A primeira canção ao verão.

O sol que aquece as costas, a pele através dos vidros e dos enrustidos compartimentos onde se resguarda a empatia à vida.

E na noite clara de lua gigantesca sombreada aos flancos pela luz vibrante feito espelho solar os beijos se derretem mais rápido.

Estrelas imensas dividem espaço com as nuvens carregadas e brincalhonas.

Rápidas tempestades fingem refrescar o calor fervoroso que é o ventre do dia.

O amor ganha ares de libidinagem e exaustão, relâmpagos odores da tarde e da calçada cheia de pegadas apressadas.

Rastros buscando um vento para aplacar de leve o suor. A sede que vence a fome. A busca dos lábios e línguas por saliva (e por saliva alheia). Os corpos que vencem distância e se distanciam.

Finalmente as cores mergulhadas nas águas translúcidas revelam-se alegres e leves, como as ondas verde-azuladas, como as nuvens brancas aveludadas e como os pés
descalços, os cabelos soltos, os sorrisos jogados, olhares reluzentes e que sempre arriscam-se mesmo desviando-se dos raios do sol.

Sorvetes pingam sobre os colos desarmados. Crianças ralam os joelhos, sangram, e com a ponta do dedo provam do sangue: caretas surgem como limonada sem açúcar.

Tomar banho de chuva, gargalhar até perder o fôlego, deitar na rede pra fazer parte do ar quieto e amigável.

Maldizer os ternos, os sapatos, o ar condicionado quebrado, as super lotações das conduções e o transito do feriado, e mesmo assim, correr de abraço ao céu azul cheio de vida que diz bom dia.

Esquecer o guarda-chuva, esquecer do tempo, esquecer a dor e os problemas só pra deixar-se fazer nada enquanto o hálito morno depois das águas lambe seu pescoço, costas e onde mais gostas de suor desejem deslizar.

Sonhos intensos se transpassam e se revezam com a insônia.
O cheiro do tempo que muda, do asfalto que muda, da pouca grama que muda.
Das esperanças e das energias renovadas em dualidade com o corpo amortecido e os desejos de preencher cada noite quente de lua cheia com a grandiosidade de um viver intenso, tão intenso quanto o sol de verão.