sábado, 9 de junho de 2007

Equilíbrio

 

Hoje eu quero um silêncio amigo, e um amigo como o silêncio. Melancolia de refúgio e um cálice vazio na mesa. Voarei nas asas de vampiros, dormirei quando os gatos e os morcegos dormem. Durante a madrugada seremos solenes. Trancarei-me na paz do outono, recostarei minha alma cansada sobre a folhagem da arte. Vou de encontro ao sepulcro dos pesadelos, enterro meus pés na grama úmida do orvalho. Deixaremos as janelas à luz da lua. Sem embriagues, mantendo o espírito na base da confortante quietude. O horror poderá servir de encontro às profundezas da sabedoria. E quando observar a cidade só respirarei o que há de misterioso e que dialoga com minha interioridade e introspecção de tempos românticos perdidos.

Triste



Mantenho-me aqui – perdida.
Solitária e cheia de lágrimas.
Onde meu corpo empalidece quase sem vida
E cheia de lástimas.
Choro – escondida – comedida.
Acometida num mundo louco
Onde se possa degustar da solidão.
E se choro, meu pranto é rouco,
E calando-se, se vai a devoção
Por todos os meus sonhos belos,
Hoje, infames e em flagelos.
Será que, pra minhas agonias,
Há de haver respostas?
Só me quer a melancolia
Com suas mórbidas propostas.
Então a dor me deixa aqui, assim,
Sem acreditar num feliz fim.

O Sentido.



É sentir na pele o vento frio,
Ver a verdade nos olhos de outrem,
Sentir que a luxuria tirou-lhe o brio.
Ver que só nas sombras há o além.

Ter medo de em cada passo pisar em falso.
E a adrenalina ferver-lhe a alma.
Com o sofrer prender-lhe em laço
Mórbido, onde se esvai a calma.

Jamais beijar o céu de amores,
Nunca vir a alcançar o sorriso,
Pois a tristeza lhe excita em louvores
E, da angustia vê sempre o riso.

E por mais loucos no correr em passos largos,
Não chega na ventura de feliz viver.
Só as lagrimas lhe acompanham com afagos.
De carinhoso, só tens, seu sofrer.

E ao correr deixa para traz,
Mais dor, mais medos, mais lágrimas.
E mais forte a solidão faz
Com que os prantos sejam dogmas
Para seu lamento voraz.

E assim vai ficar – chorar. Estar ai a sofrer.
Assim para sempre vai calar,
Vendo noutros olhos seu morrer.
Nesses olhos do funesto pesar.

Minha Deusa de Branco




São aquelas memórias,
Longe de algo que eu possa aceitar.
São lugares distantes
E vozes distintas me abraçam.
Eu caminho sem pressa.
Eu viajo solitário.
Uma deusa de branco me espera.
Eu sorrio e me entrego,
Sem hesitar e sem escolha.
A cada passo a floresta é mais escura,
E os pássaros cantam para mim.
Eu me perco e tento achar
A luz da vida ainda acesa.
Novamente tudo parece um sonho,
Um sonho onde estou presa.
Sinto a nostalgia,
É um perfume doce
Que acende a minha alma.
As vozes são misteriosas.
No céu brilha a lua.
As folhas no chão, mortas,
As flores resistem ao frio,
A deusa de branco me chama,
Eu não vejo seu rosto na neblina,
A penumbra o cobre.
Ela é minha salvação,
A porta para a liberdade.
Mas quando me entrego
Ela me deixa sozinho neste sonho.
Em sono profundo
E sem saída para a vida.
Eu vejo a luz nascer e morrer
Muitas e muitas vezes.
Minha esperança se desfaz.
E a deusa de branco
Sem me levar com sua luz.
Ela me esquece nas sombras
Das memórias.
Eu revivo cada instante
E me pergunto: Por que?