quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Minha Estátua.



Eram teus flancos pálidos, de gentis curvas
Minha estátua de gesso! Em prazerosa fúria
Que bailavam cálidos (e a visão ainda me turva)
Por entre as sombras da luxúria.

E posso eu ainda te esquecer?
Aquela magnífica imagem da luz
Fulgurante que vinha me aquecer.
Como não cultivar o que me conduz?

Sob o céu das trevas, tu rias morta de amor -
Toda’quela magia ainda me seduz -
Como não pensar em beber o calor
Do seio alvo teu, quem em desejo me pus?

Ofegante, de tua doce feroz boca vinha o suspirar.
Qu’eu noite após noite em ansiedade tenebrosa
Maculei-te, só por pensar em me deitar
Sobre tua pálida e sensual pele formosa.

Por não alcançar-te além do sonho da cova
Derramo meu sangue – Oh, doce feiticeira.
E enveneno-me sobre tua eterna e pútrida alcova.
Entregando-me a solidão como ao vento se vai fina areia.

Tudo, pois te vi em negro vestido e véu
Carregada em teu caixão da madeira de cedros,
E trancada solitária, após simples reza, neste gentil mausoléu,
Que me permite jazer aqui, entre flores e arvoredos.

Oh, tua estatua perfeita de olhos e belos cabelos
Castanhos como esta terra que te cobre feito manto.
Oh, funesta deusa, por que a mim apareceste pelos
Ventos frios e úmidos como se mostra meu pranto?

Por que banhaste-me com o orvalhar da alma tua,
De forte aura e semblante sério, mas cheio de amor?
Por que mostrastes aquelas alvas mãos tuas
Colocadas sobre teu colo só pra eu sentir tua dor?

Enfeitiçado pela fria magia funesta que tu cantaras,
Eu sozinho me deixo morrer na frente de teu escuro lar,
Por causa da dança que – eu juro – tu dançaras
E embriagaste-me neste som sutil e horroroso de folhas a farfalhar.

É este soprar dos ventos que me atormenta.
Ah, perfeita deusa do negror de meu pesar.
Graças a ti meu sangue se esvai de forma lenta
E as asas da morte já vêm me buscar.

Sobre o perfume das flores encontrar-te devo!
Aguarde – eu choro ansioso – minha deusa – por beijar-te.
Quero breve reconhecer a cor de teus olhos e sentir teus relevos
Mesmo que seja com a alma, para não macular-te.

Em desvairada loucura ver, então, tua imagem.
Ah, como me encanta este escuro profundo – tu danças.
Meus olhos fechar-se vão diante de tua mensagem
Que canta numa melodia obscura de matança.

É, por ti, donzela, que rogo à carnificina do meu ser.
É por ti, meu amor pálido, que eu grito.
Seguirei por entre as baixas trevas de suicidas para ter
Teu verdadeiro semblante e eu deixar de ser aflito.

É por ti, alma lúgubre e cálida jazida
Que meus olhos se fecham, sem pensar
Em algo mais que ti, eternamente para vida,
Eu deixo tudo aqui e busco-te no meu sepultar.

Oh, minha bela e pútrida rainha n’alcova.
Vou a ti, feiticeira do amor, pela morte sobre teu peito.
Pois noites a fora visitou-me em sonhos e chamou-me a tua cova.
Eu morro, ah, meu tenebroso amor perfeito!

Vou a ti morrer: linda estatua de gesso branco.
Por ti jazer – fria e morta princesa.
Depois de tanto derramar sangue e pranto,
Humilho-me a ti, fúnebre moça, que és das trevas realeza.

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