sábado, 27 de novembro de 2010

Ode Triste (ao Teatro)



Dói. Uma dor que estende no tempo e consome quanto mais perto se aproxima a razão da existência dessa dor.
Uma dor de não pertencer, de estar distante, de não poder.
Dor de mãos atadas, pernas amarradas, bocas trancadas e costuradas.
Dor de algemas nos pulsos, que machucam, mas não rasgam ao ponto de libertar.
Fechar, trancar, deter.
Impossibilitar os atos e as atitudes que necessitariam reverberar no espaço.
Ser consumida pelos dias, pelo poder maior de não poder estar.
E repete-se. Feito um compasso fácil e nada frágil que tange na estabilidade da renovação das amarras.
E está longe.
Inalcançável aquilo que um dia tive em mãos, no coração, dentro do caminho e hoje, e novamente como no passado, não é, não vem, não pode.
Céu inalcançável. Uma estrela brilhante que reluz encantos. Prantos.
Me abandono, me tomo nos meus próprios braços por consolo, e sumo.
Desapareço do lugar desejado que não é meu lugar hoje, foi, deixou de ser, e foi, e deixou de ser, e hoje não é.
E choro, ora quase choro, entristeço-me, supero, tento.
É a dor que se assemelha a inveja, ao desejo, ao pecado de não contentar-se e mesmo assim aceitar o momento da dor. O momento de o coração gritar “Não quero” e da razão dizer “Eu preciso” e da alma balbuciar “Mas por quê?”
O que da sentido à vida, torna o lugar do sonho. Um sonho que é almejado no raiar do dia e no compasso das horas, mas que nem o sono é capaz de trazer.
A paciência, o que é o mal crível para criar o bem sólido.
Mas dói, o corpo se cansa das dores do espírito. E os suspiros insistem em sair.
Dói. Essa dor que parece não findar, que tem esperança, mas se cansa de esperar.

4 comentários:

  1. Oi, grato pelo comentário. Que bom que você gostou. E parabéns pelo teu blog. Abraços!

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  2. Oi, sim, eu comentarei, mas ainda não recebi o livro, estou aguardando o Marcelo entrar em contato para me informar de frete. Abraços.

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  3. Os artistas precisam de alimento e alimentam-se também da própria arte.

    Impresssionante como distantes nos tornamos magros e com os olhos fundos.

    Deixemos a esperança brilhar nos olhos, mesmo quando o verbo esperançar se misture com o esperar.

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  4. Relaxa, esta foi a ode, logo mais vem a Fanfarra.
    Bejão.

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