terça-feira, 25 de maio de 2010

Embriagues




Um homem quando se torna carente tem grandes chances de se tornar deprimente e depressivo, muito mais deprimente na verdade.
E esse mesmo corre o risco de se tornar um poeta... pobre ser. Acha que é alguma espécie de Deus brincando com as palavras, mas mal sabe ele que elas fazem dele o que bem querem. Que de nada vale seu semblante ou seu orgulho, gozam dele as emoções e sensações perante a sua escravidão.
Indiscutivelmente, agora que conheço a minha sina, para que me preocupar? Quem é poeta é no mínimo amaldiçoado, escória da humanidade, um anjo de asas quebradas.
Eu tenho a paixão das prostitutas, o amor das donzelas e a veneração das damas-da-noite. Por isto só sigo na madrugada, prefiro a companhia dos morcegos à dos semideuses! Ainda me permito voar, mas quando volto ao chão meus pés ardem como se eu pisasse em brasas, e minhas grandes asas machucadas dificultam meu caminhar arrastando-se no asfalto.
Preciso de um olor forte e um gosto doce para aliviar a minha dor. Mas não me resta um mísero mango no bolso.
Deus me deu a arte para que eu ficasse louco. Assim meu sorriso é devéras melancólico.
Cheguei ao ponto! Eu dou risada de minha desgraça.
Por isto meu vinho é do bar mais escuro, da adega mais suja, da esquina mais fedorenta. Eu vivo entre os ratos: "Procure um rato entre os homens e encontrará um príncipe entre os mortais” – Naquelas longas noites de solidão.
Ah... Eu cansei dessa angústia. Maldição. MERDA!
Esta piada não me faz mais rir, a não ser nos momentos de lascivos de raiva e possessão em que me torno masoquista, (até sádico talvez).
Eu cuspo na sua cara com meus versos!
Mesmo estando... perdido, pisado.
Deus me pede uma canção e eu não tenho um PUTO no bolso.
POR ISTO O VINHO DOS POETAS É SEMPRE O MAIS BARATO.
Ironia...deixe-me me embriagar... eu medíocre... eu desgraçado!

4 comentários:

  1. Esteticamente ficou até legal. O eu-lírico soa até convincente.
    Lógica e ideologicamente está um lixo. Explico: existe um sofisma na idéia "um pelo todo". Dizer que "um poeta" é "um pobre ser carente" e estendê-lo aos "homens poetas e artistas" é no mínimo ridículo. Você está englobando todos os músicos e compositores nesta idéia, inclusive os mais populares; ser poeta não é ser carente ou deprimente - é ter um dom. A temática dos versos muda com o assunto e a idéia, e quanto mais reflexões, mais elucidado torna-se o ser (uma poetiza deveria saber bem disto). Quanto à lógica, é o mesmo que dizer: uma mulher tem raiva, logo todas as mulheres são raivosas/nervosas. É uma falácia (argumento inválido e inconsistente).

    "Quem é poeta é no mínimo amaldiçoado, escória da humanidade, um anjo de asas quebradas."
    Os artistas, compositores, escritores, músicos - os poetas - não são nada disso, antes são o contrário disso, pois são eles que jorram de suas fontes as idéias que fazem os homens refletir com todas as suas obras de arte – todos os seres humanos que podem ouvir gostam de música, por exemplo, que contém a poesia dos mais variados homens.
    Além disso, dom é sinônimo de dádiva, é o que distingue quem tem dos que não têm. Ora, o que temos a mais não nos torna menores mas maiores.

    Mas.. claro.. se você quis apenas fazer um rascunho, um exercício interpretativo, colocando-se inclusive dentro de uma voz masculina e mui tola por sinal; um papel deprimente e ilógico apenas como passatempo... é... ok.
    Afinal, uma artista, poetiza e compositora tem o dom de se colocar nas mais diversas vozes – e quem não é capaz de compor não poderia fazer isso.
    ^^

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  2. SUA COLOCAÇÃO É PERFEITA, meu amigo Samuel!
    E se tivesse ficado indignado eu ficaria ainda mais feliz com o feito.
    Eu, Carolina, acho que ser poeta, ser artista, é sublime, é magnífico. Um dom divino e não uma maldição.

    Mas ele, esse não sei bem quem que eu criei para dizer tudo isso, pensa muito deveras diferente de nós.
    Talvez, por ele não conseguir parar de escrever, por ter grandes idéias, e por estar morto de fome, sem esperanças, sem nada em que acreditar. Talvez, ele não quisesse isso, talvez, ele quisesse apenas ser uma pessoa sem nenhum talento. Talvez, ele quisesse apenas viver mediocremente como são tantos.

    E sim, uma voz masculina e tola, pois não são todos assim, mas este sim é decadente, um tipo de pessoa que, apesar de artista, é na verdade um palhaço de sua própria tristeza e não sabe lidar com nenhuma parte de seus sentimentos.

    Como atriz, posso fazer um bêbado, um assassino, posso dar voz a qualquer ser deprimente, sem na verdade tornar-me um ou concordar com o mesmo.
    Como quando escrevo, posso fazer o mesmo.

    Muito obrigada por passar aqui.

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  3. Ufah, rs.

    Fico feliz em saber que foi um trabalho de interpretação e que nossas idéias são compatíveis.

    E, sim, de certo modo eu fiquei indignado com esse eu-lírico dos infernos! ahahaha
    (e entendo o exercício, pois eu também sou adepto dele,rs)

    Foi um prazer passar por aqui e ainda devo-lhe comentários, amiga.

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  4. Gostei muito do seu texto, e me identifiquei muito com ele nos meus momentos de decadência e glória.
    Dá pra sentir o frio da madrugada e as ralas vestes do poeta.
    Além disso, é de absurda sensibilidade entender que a realidade pode transformar as pessoas e o poeta interpretdado provavelmente estava tomado por sua realidade.
    Acredito que a arte é sublime, mas pode ser também a glorificação dos decadentes.

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