terça-feira, 23 de março de 2010

Outono de 2010





Eu preciso te dizer outono, mais uma vez, sobre meu amor por ti.
Sobre esta vontade de usar cachecol ao vento batendo a sola dos coturnos sobre as calçadas cinzentas de minha cidade caótica e encantadora, também embevecida em ti, outono (feito eu nos aromas de vinho ou cafeína).
Entre tuas folhas que logo mais caírão amareladas, aquele amarelado de foto, de livro, de folhas de caderno. Junto com cheiro bom de se embalar na ventania do tempo. Ser simplesmente este tempo amigo e me confortar neste presente querido e venturoso. Alimentando as certezas de um momento tão mágico que é esta simplicidade, e aquela vontade enorme de no futuro ter colo. Um colo amigo e confortável que não prenda.
É chegada a estação de beber café, cappuccino, chá quente.
Estação de ir ao cinema de filmes europeus. Estação de amar.
É um prazer quieto e melancólico de estar tão consigo mesmo, e quase completo nos afazeres bons do cotidiano, mas sem rotina, sem sina, sem dificuldades.
É estação de ouvir música boa, ler bons livros.
Escrever os sentimentos e descrever os momentos pintando e reproduzindo tantas cores calmas no céu. Tudo um pouco aquarela.
O balançar das árvores, em breve só galhos.
O cheiro de asfalto molhado na cidade, e terra molhada do quintal.
Vontade de abraçar todos os amigos.
Sempre quando chega o outono, parece que volto pra casa. Essa minha casa que sou eu nesse estado tão puro e verdadeiro de estar comigo.
Tudo enquanto o mesmo pincel se molha na garoa e mancha as cores no papel texturizado, tato mais delicado e atento. Tato para abraço, para lábios, para papel, para outra pele, tato para pintar.
O azul e o branco acinzentados são quase a mesma cor.
Eu vou sujar as pontas dos dedos com essa aquarela.
Seja bem vindo mais uma vez querido Outono.
E estou tão feliz de estar aqui para lhe receber.
Anjo quieto, pálido e confortável, peço que me inspire, que eu possa respirar de ti, me encher com tua poesia, com tua lasciva tênue. Com tua arte que é nos preparar e nos causar surpresas.
Se tu fosses homem, outono, eu ser-te-ia fiel a amar apenas ti para sempre. Sendo este anjo de pintura de aquarela envelhecida como se apresento, sou-te grata, apaixonada e eternamente uma aprendiz.
O dia que eu for como tu, Outono, eu sei que saberei o que se pode chamar de felicidade.

Imagem: A Noiva Cadaver, por poesia melancólica..

Um comentário:

  1. Maravilhoso...
    Tão doce como o outono que chega... que nos invade e instiga...
    Dias frios, cinzas... que causam aquele arrepio quente... que nos transporta as palavras... a desvendar os sentidos.

    Abraço...
    contato: isa-cunha87@hotmail.com

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