quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Trilhas



Coração ardeu.
gelou. Estancou de tanto se camuflar
E quanto mais se respira fundo, pesa o ar
em breu.

Julgou. Ferida,
cismada a sangrar, abriu
e veneno surtiu.
Tornou-a haurida.

Fez-se a razão.
E de tão clara a luz doeu,
corpo erguido tremeu,
olhos foram ao chão.

Tormento!
Vê as pegadas enviesadas.
Inspira certezas engavetadas.
Em tempo...





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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Dasventanias


Não calou-se à primavera.
Ela era vento e já fora espera.

Era desabrochar de vontades
Num voo livre e solto,
Sem que precisasse impor verdades
E certezas, nem um pouco.

A menina não justificou-se:
Do grito, calou-se.

Só precisou as mágoas desenterrar
E soprá-las aos ventos em rodopio.
Ai, das dores, pode desapegar
E partir, do porto-aguardo, em seu navio.

Diriam que era insano seu intento,
Mas só os que não viveram seu lamento.

Pois era primavera, e se pudia renovar.
Não era flor, nem luxúria, nem singela,
Apenas plenitude em se  libertar:
Tornou-se apenas vento, o que era ela.


.Para Juliana.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Manchas

Erguer-me do cansaço passado.
Respirar o ar solitário da manha.
Poder ouvir o cantar dos pássaros.
Pensar no que haverá de bom amanha.

Esquecer que um dia existiu amor,
Esquecer a dor, o calor.
Pensar que o céu ressuscitou agora.
Só esquecer a noite – fixar-me n’aurora.

Minha alma limpar,
Meu coração emudecer.
Esquecer que um dia, ao orvalhar
Ao deixar-me fez-me tremer.

Céu, sua infinita lembrança.
Noite, onde seu coração pulsava
E gritando em minha alma lança
Nódoas que na memória são asas.

E agora escrevo tais versos,
Sujando com meu batom seu espelho.
Minha poesia pobre: sentimentos secretos,
Seu adeus podre e meu batom vermelho.

Quando chegar terá que limpar cada rastro meu
O batom, o suor, o cheiro em roupas suas,
As cinzas dos incensos,
As garrafas de vinho que bebeu,
Enquanto tentarei esquecer, bebendo pelas ruas.

Mas em sua memória esta a nódoa sanguinária
Palavras marcadas, difíceis de apagar.
Os beijos quentes numa noite solitária
Sepultados no adeus do orvalhar.