quinta-feira, 3 de abril de 2008


Eu queria um tempo a mais pra te descobrir, outono. Queria ficar esta tarde toda no teu colo e deixar a chuva limpar meu peito, meu ventre e meus pulmões. Pois hoje, as janelas não serão abertas, eu vou encostar a porta do mundo e mergulhar no meu desconhecido.

“Ponto de ônibus. Ao redor percebe-se um lugar isolado. Chove. Fim de tarde.

Jovem está sozinho no ponto de ônibus. Tem uma mochila nas costas, carrega livros nos braços, o esta rosto abaixado. Parece pensativo e distante. Ora olha na direção da avenida, ora para seus livros, ora para o chão. Parece dizer “não” pra si mesmo com a cabeça. Tem-se a impressão de que um pensamento lhe vem, continua pensativo, e mais uma vez abaixa o rosto. Resolve sentar-se, coloca os livros sobre o colo, olha no relógio e suspira. Treme de frio. Pega os livros e levanta-se rapidamente, dá sinal para o ônibus que pára muito à frente do ponto, corre na direção, um carro passa em alta velocidade jogando muita água sobre o Jovem. Abre o farol, o ônibus segue. O Jovem fica parado na chuva, sem a menor reação. Chora quieto. Dá-se conta dos livros e volta para baixo do ponto de ônibus. Senta-se e espera. Tira a mochila das costas, começa a procurar algo em seu interior, à medida que não acha procura com mais afinco. Retira um saco de pão, olha dentro dele, e amassa-o (está vazio). Enfia o saco novamente na mochila. Coloca novamente a mochila nas costas. Retira do bolso algumas moedas, começa a contá-las, suspira longamente. Os livros ameaçam escorregar de seu colo, na tentativa de impedir as moedas caem no chão. O Jovem rapidamente põe os livros no banco de ônibus e corre na direção das moedas. Sai de debaixo do ponto e recolhe as moedas na chuva.
Sem que ele perceba um senhor se aproxima e coloca o guarda-chuva sobre ele. O Jovem olha agradece com um sorriso tristonho e o Senhor sorri. Jovem se levanta, e ambos seguem para baixo do ponto de ônibus. O Senhor fecha o guarda-chuva e cumprimenta o Jovem com um grande sorriso. O Jovem fica tímido, mas retribui o comprimento, senta-se e volta a contar as moedas. O Senhor senta-se ao seu lado e o observa. Senhor coloca a mão no bolso do casaco, e entrega uma moeda ao Jovem que inicialmente se assusta. O Senhor faz um gesto de insistência, o Jovem arqueia as costas para trás. Pensa, olha para o Senhor, deixa os ombros relaxarem, pega a moeda e agradece com um movimento de cabeça. O jovem coloca as moedas novamente no bolso. Ambos voltam seu olhar para a avenida. O Jovem mais uma vez suspira e lacrimeja. Eles se olham. O Senhor sorri mais uma vez para o Jovem. Eles voltam a olhar para a avenida. O Jovem se levanta, dá sinal. Um ônibus pára, o jovem ao entrar olha novamente para o Senhor, ele sorri, e acena com a mão dando tchau para o jovem.”

Exercício de dramaturgia.

O que você me diria sobre cada um desses personagens?
Um gesto vale mais que mil palavras, ou não?

Deixe seu corpo falar por você.